quarta-feira, 8 de julho de 2015

não sei já o que pensar
– para saber necessita a mente de esquecer

e os espasmos eléctricos
percorrem – de pés nus –
caminhos de calhaus miúdos
ou asfaltos onde irrompem as feiteiras

deixo o saber e aposto a vida
em decalcar os contornos das coisas
e em registar – em conceber – os negativos da realidade enevoada

– ou seja – o tudo de nada

mas
a inutilidade – como a verdade ou a feiteira – não se verga
a inutilidade – como a verdade ou a pedra – não se quebra

deixo a vida e aposto a arte
– em tudo o que analiso ou vejo
contemplo apenas a lenta contradição de mim – lento

num saco bojudo – inchado
entra o mundo ruidoso – enrugado
e dele saem as minhas ideias

– ou seja – o nada de tudo

[2004; 2015]