quinta-feira, 26 de agosto de 2021

é urgente

expurgar o engano
de que a terra é quieta

existem constantes e recorrências rítmicas
- mas a cada passagem da minha bússola
as sementes da violência
- insidiosas - sedentas de minerais -
afundam mais um palmo golpeado

tomemos o pulso à emergência
- o que vai - o que se afunda
devagar
há-de voltar com a força do terramoto

há-de voltar primeiro
mesmo que depois de todas as coisas

e há-de abrir novas fissuras
para novas sementes

quarta-feira, 25 de agosto de 2021

encontro espinhos em gerúndio
cravados numa folha avulsa

dentro de um dia - de um livro -
onde a humidade já se faz gérmen

«complexo de fraude»
- diz a folha

a desafiar a minha fé
de erratas e de injúrias

[há que desconfiar do poema curto
feito de espinhos e de julgamento

porque - sabe quem o sabe -
há uma faina de correcções

no salvamento de uma só expressão
- pesada de chumbos - e uma bóia ao meio

enquanto outra forma de vida não houver
esperemos - sem o engodo da fé]

[Poema publicado em Mostrengo – Antologia Poética, Caniço, Jóias de Cultura, 2019.]