segunda-feira, 4 de julho de 2016

tropeçam fantasmas
no regresso do discernimento

meu regresso?
meu discernimento?

não sei

não ouvi o galo
anunciar as matinas
– como quem ergue o homem

não vi a lagartixa
cuspir nas pedras
– como quem guia o homem

não ordenei a um ermo ou a uma floresta
para se fazerem e ao seu contrário
– como quem alimenta o homem

mais além não suam deuses
nas molduras das paisagens
– como quem acredita no homem

não senti os cães
a ladrarem nas vespertinas
– como quando se iça no fim dum baraço o homem

não sei das cagarras
que destoam da noite
– como quem ri do homem

não sei

regressam fantasmas
nas exéquias do discernimento

e assim
suspendo as glândulas do conhecimento
com suspiros do abdómen

sacudo o sangue
com gargalhadas redundantes

e tropeço sempre
na minha sabedoria

tenho na retina
um brilho de lâmina
– afiada por dentro
– romba por fora

[Poema publicado na colectânea Cadernos de Santiago I, Lisboa, Âncora Editora, 2016.]

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