quarta-feira, 27 de janeiro de 2021

nada do que te disser
abalará o matadouro ou a fornalha

o silêncio seria uma hipótese administrativa
mas rasgo-o porque quero viver

o meu epitáfio estará sempre escrito
nas linhas que bordam a tua ferida

sempre dito nos bafos que levam
e fazem pousar as asas das cinzas

é bom que o saibamos
antes e depois dos holocaustos

se desprezarmos as palavras
tudo é transmissível – tudo se assemelha

emergem némesis siamesas
e oposições forjam-se do mesmo veio

por isso sufoco o silêncio
dos rituais servos – da burocracia funcionária

– cicatriz à tua ilharga
é chaga minha

– o que te faz flama e queda
é o que me fará recordar

[Versão de poema publicado na colectânea 70 Poemas para Adorno, Funchal, Nova Dephi, 2015.]

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